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  • Com convergência geopolítica e avanço na cooperação, Brasil e Índia reforçam aliança no Sul Global
    Jul 8 2025
    Com uma pauta ampla que inclui colaboração no combate ao terrorismo, cooperação agrícola e o papel estratégico do Brics, Índia e Brasil fortalecem suas agendas bilaterais e buscam se afirmar como alternativas à polarização das grandes potências. Nesta terça-feira (8), o presidente Lula recebe o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, em Brasília. Raquel Miura, correspondente da RFI em Brasília Brasil e Índia, integrantes do Brics, compartilham características marcantes: são democracias em desenvolvimento, com passados coloniais e desafios sociais e econômicos ainda significativos. A chegada do primeiro-ministro Narendra Modi a Brasília, onde firmará acordos de cooperação com o presidente Lula, reacende o debate sobre o protagonismo que essas duas nações — relevantes, mas historicamente fora do eixo das grandes potências — podem exercer no cenário geopolítico atual. Para analistas internacionais ouvidos pela RFI, Brasil e Índia simbolizam o fortalecimento do Sul Global em um momento de reorganização das relações internacionais. “Brasil e Índia, sem dúvida, fazem parte dessa tentativa de reposicionar as relações entre os países em um contexto global desafiador, em que mesmo a ordem internacional criada após a Segunda Guerra Mundial se mostrou insuficiente para resolver os problemas concretos da humanidade. Então, talvez, a solução possa vir do Sul Global, de países que nunca lideraram nenhuma ordem internacional hegemônica e que, exatamente por sofrerem com os efeitos colaterais dessas diferentes potências, conseguem pensar fora do óbvio, pensar políticas mais arrojadas”, afirma Carolina Pedroso, professora de Relações Internacionais na Unifesp. O especialista Jorge Ramalho, professor da Universidade de Brasília, ressalta que há “amplos espaços de cooperação a serem ocupados, em especial no que concerne à produção conjunta de medicamentos, ao desenvolvimento da agricultura familiar e à redução da pobreza, principalmente da fome”. Para ele, Brasil e Índia têm realidades distintas no âmbito regional, mas, quando se trata do ambiente global, há uma grande convergência de interesses. “Por estarem distantes fisicamente, há pouca possibilidade de conflitos entre os dois países. No plano geopolítico, contudo, há uma grande diferença entre a dinâmica tensa enfrentada pela Índia, em especial com relação à China e ao Paquistão, e a confortável situação brasileira. No conjunto, contudo, há interesses complementares. Os dois países têm muito a ganhar com essa aproximação e muito a oferecer ao cenário internacional, em termos de reforma do multilateralismo e de fortalecimento da governança global”, observa Ramalho. Rivalidades globais e alianças alternativas No momento em que as maiores potências, Estados Unidos e China, escancaram a rivalidade global, é possível enxergar, na relação de Modi e Lula, uma tentativa de defender a transversalidade de temas como o combate à fome nas relações mundiais e de construir parcerias em que pode haver mais de um ganhador. “A Índia é a quinta economia do mundo. O Brasil, a décima. São países que passaram por processos de colonização, que ainda têm de avançar em muitos aspectos de desenvolvimento. Por isso, a cooperação Sul-Sul — que são essas políticas de aproximação, de troca de conhecimento, de tecnologias — tende a acontecer muito mais numa lógica de ganha/ganha, em que ambas as partes podem sair beneficiadas por essa aproximação”, acrescenta Carolina Pedroso. Os Estados Unidos são o principal destino das exportações indianas, ao passo que a China — principal parceira comercial do Brasil na atualidade — é o país que mais vende para a Índia. “A relação Brasil/Índia é relevante tanto dentro do Brics quanto no cenário internacional como um todo, mas ainda não atingiu o ápice daquilo que pode se converter, tanto em termos de comércio, de investimento, como de cooperação”, pontua a professora da Unifesp. Vacinas, cultura e futuro compartilhado O especialista Jorge Ramalho lembra que a Índia se beneficiou da política brasileira da década de 1990, de negociar a quebra de patentes de medicamentos para doenças que afetam grandes parcelas da população de países em desenvolvimento, fortalecendo seu setor farmacêutico. Hoje, o Brasil tenta retomar a produção da maioria das vacinas que consome em território nacional, reduzindo, inclusive, importações de doses da Índia — o que, para ele, mostra mais confluência de temas do que adversidade. “Os dois países também têm problemas semelhantes em outras áreas, como a agrícola e a social, de modo que suas posições tendem a aproximar-se nas negociações internacionais. Em setores como o espacial e o nuclear, o Brasil tem muito a aprender com a postura da Índia, mais estratégica e consistente através do tempo. Em cada uma das duas ...
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  • Trump e Netanyahu se reúnem para discutir o futuro do conflito entre Israel e Hamas
    Jul 7 2025

    O primeiro-ministro israelense, Benjamin Netanyahu, já está em Washington, onde se encontra nesta segunda-feira (7) com o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Com as idas e vindas, propostas, respostas e observações, a situação permite várias perspectivas e possibilidades para um acordo de cessar-fogo no Oriente Médio.

    Três temas devem dominar o encontro entre os dois líderes. O fim do conflito na Faixa de Gaza é a principal prioridade do presidente norte-americano, como ele mesmo tem reiterado publicamente. Além disso, haverá uma avaliação do novo cenário regional após os 12 dias de conflito entre Israel e o Irã, que contou com a participação decisiva dos Estados Unidos no bombardeio de instalações nucleares iranianas.

    Outro tema importante é a possibilidade de expandir os chamados Acordos de Abraão, uma das principais conquistas internacionais do primeiro mandato de Trump. Em 2020, Trump anunciou que conseguiu estabelecer relações diplomáticas entre Israel, os Emirados Árabes Unidos e Bahrein. Posteriormente, outros países aderiram a este formato de acordo.

    Até os ataques do Hamas em 7 de outubro de 2023, havia a expectativa de que a Arábia Saudita pudesse ser mais um país a estabelecer relações diplomáticas com Israel. No entanto, a resposta israelense e a tragédia humanitária em Gaza colocaram o assunto em compasso de espera. Os sauditas afirmaram que só normalizarão relações com Israel se o governo de Netanyahu abrir caminho para a criação de um Estado palestino, algo improvável na atual coalizão de governo.

    Entretanto, segundo apuração da RFI, há a possibilidade de novidades sobre os Acordos de Abraão. Uma declaração sobre o fim do conflito em Gaza pode ser tão importante quanto uma declaração sobre a criação de um Estado palestino. E isso poderia abrir caminho para mais adesões ao acordo lançado por Trump em 2020.

    Negociações indiretas entre Hamas e Israel

    Enquanto Netanyahu está em Washington, outra delegação de negociadores israelenses está em Doha, no Catar, com o objetivo de resolver as divergências após a resposta do Hamas. As diferenças entre as partes se concentram em três aspectos: o modelo de distribuição de ajuda humanitária na Faixa de Gaza, a retirada das tropas israelenses do território e a exigência do Hamas de que o cessar-fogo de 60 dias leve necessariamente ao fim do conflito. O grupo palestino quer garantias dos Estados Unidos de que isso vai acontecer.

    Após a resposta do Hamas e a reunião do Gabinete de Segurança de Israel, o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu informou, em comunicado oficial, que as exigências do Hamas são inaceitáveis. No entanto, segundo informação obtida pela RFI, se não houvesse qualquer possibilidade de negociação, a delegação israelense nem sequer sairia para Doha.

    As famílias dos reféns israelenses foram informadas sobre a decisão de enviar uma delegação a Doha e exigem atualizações sobre o processo de negociação.

    Membro do governo israelense apela por acordo

    O ministro das Relações Exteriores de Israel, Gideon Sa’ar, pressionou abertamente por um acordo de cessar-fogo entre Israel e o Hamas.

    “Há uma grande maioria, tanto no governo quanto na sociedade, a favor do plano para a libertação dos reféns. Se houver uma oportunidade para alcançar este acordo, ela não deve ser desperdiçada!”, escreveu em sua conta no X (antigo Twitter).

    Ao mesmo tempo, apesar da maioria mencionada por Sa’ar, dois dos ministros mais radicais da coalizão se opõem ao plano: Itamar Ben Gvir (Segurança Nacional) e Bezalel Smotrich (Finanças). Segundo a imprensa local, ambos estão empenhados em impedir a aprovação deste acordo.

    Embora detenham 13 das 120 cadeiras do Knesset, é importante deixar claro que o Gabinete de Segurança, ao votar o acordo, não precisa da aprovação dos demais parlamentares. No entanto, Smotrich e Ben Gvir podem tentar derrubar o governo ao sair da coalizão.

    Diante deste cenário, o líder da oposição, Yair Lapid, voltou a se comprometer a se juntar ao governo, oferecendo uma “rede de sustentação”. Benny Gantz, líder do partido Azul e Branco, também afirmou que “nenhum bloco no mundo será capaz de impedir o retorno dos reféns”.

    “Netanyahu, a política pequena não vai ser um obstáculo para decisões históricas. Você tem uma ampla maioria para trazer os reféns de volta entre o povo e o Knesset”, disse em mensagem de vídeo.

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  • Inclusão das mulheres é essencial para o desenvolvimento econômico dos países do BRICS, aponta relatório
    Jul 4 2025

    Enquanto negociadores seguem trancados atrás de um texto de consenso para a declaração final dos líderes do BRICS, que estarão reunidos no Rio de Janeiro nos dias 6 e 7 de julho, a Aliança das Mulheres de Negócios do grupo acaba de preparar um novo relatório sobre a realidade da população feminina no bloco.

    Vivian Oswald, correspondente da RFI no Rio de Janeiro

    O documento, que será entregue aos chefes de Estado e de governo no Fórum Empresarial do BRICS, destaca a importância de sua inclusão para o crescimento econômico das 11 nações que compõem o grupo. O Relatório de Desenvolvimento das Mulheres do BRICS 2025, ao qual a RFI Brasil teve acesso exclusivo, traça um panorama atualizado que inclui os novos sócios do bloco econômico.

    O relatório é um diagnóstico da situação das mulheres a partir de indicadores de educação, saúde, participação no mercado de trabalho e no processo decisório dos países do bloco e ressalta a importância de sua inclusão para o desenvolvimento econômico.

    O documento traz um alerta interessante para estas nações em desenvolvimento do chamado sul global, muitas delas conhecidas pela mão de obra relativamente jovem — à exceção da Rússia, que já enfrenta um problema de longa data de declínio populacional.

    Fecundidade

    De acordo com dados de 2023 para os países do BRICS, as etíopes mantêm uma taxa de fecundidade relativamente alta, de 4,16 nascimentos por mulher. Mas na China, Rússia, Emirados Árabes Unidos (EAU) e Brasil essas taxas variam de 1,16 a 1,64 nascimentos por mulher, o que indica que vários países do BRICS podem enfrentar desafios futuros, econômicos, sobretudo, relacionados à queda da população.

    Entre as razões identificadas estão uma combinação de fatores pessoais e sociais, incluindo o peso financeiro de criar filhos, interrupções na carreira causadas por partos e lacunas nos sistemas de casamento e proteções de bem-estar social. Esses desafios têm levado as mulheres a pensar duas vezes antes de começar a constituir famílias, especialmente entre as gerações mais jovens nascidas nas décadas de 1990 e 2000, que dão mais ênfase à independência, à liberdade pessoal e ao desenvolvimento profissional.

    O relatório indica que houve melhoras na participação de mulheres na economia digital e nas pesquisas científicas. Mas alerta para grandes diferenças que ainda permanecem. E nos processos decisórios, as diferenças são imensas.

    A participação delas nos seus respectivos parlamentos, vai de 50% nos Emirados Árabes Unidos, 45,9% na África do Sul a 17,5% no Brasil, onde foram registradas melhoras nos anos recentes.

    No comando de empresas também é muito desigual. Na África do Sul, o país com a melhor posição, elas têm 34,9% dos cargos de chefia. Nos salários também. Enquanto os Emirados, China e Indonésia estão entre os 15 mais iguais no ranking global, os outros ainda apresentam diferenças abissais.

    Apoio à educação

    Entre as propostas que serão entregues aos líderes dos países estão a revisão de currículos escolares com perspectiva de gênero, a capacitação de professores e o estímulo à entrada de meninas em áreas como ciência, tecnologia, engenharia e matemática (STEM). O documento também sugere a ampliação de parcerias entre instituições de ensino, setor privado e governos.

    No ambiente profissional, a Aliança recomenda a criação de bancos de talentos femininos, metas de equidade de gênero nas organizações, maior transparência nos critérios de promoção e remuneração, e a adoção de políticas como programas de mentoria e horários flexíveis. E ainda destaca o fortalecimento de marcos regulatórios, a ampliação da infraestrutura digital, especialmente em áreas remotas, e a criação de mecanismos de financiamento voltados a mulheres inovadoras.

    Às vezes, são coisas que poucos reparam. Mas, quando se fala em donos de smartphones, por exemplo, os homens são 15% mais numerosos na média do BRICS.

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  • Presidência brasileira do Brics aposta em declaração final para confirmar coesão do bloco
    Jul 3 2025
    A presidência brasileira do Brics quer uma declaração final de consenso de seus líderes na cúpula de chefes de Estado e de governo, que acontece do Rio de Janeiro, nos dias 6 e 7 de julho. O documento, que ainda não está fechado, é visto como manifestação de força e unidade do bloco de 11 nações do chamado Sul Global. Vivian Oswald, correspondente da RFI no Rio de Janeiro O encontro não terá a presença dos presidentes da China, da Rússia e do Irã em princípio. Mais uma razão, na avaliação do presidente Lula, para que a declaração do grupo seja abrangente, reforce apoio ao multilateralismo, à COP30, à reforma das instituições globais e uma parceria para pesquisas e combate a doenças geograficamente determinadas. Esses são temas prioritários da agenda brasileira. Desde o início deste ano, 11 países (Brasil, Rússia, Índia e China, África do Sul, Arábia Saudita, Egito, Emirados Árabes Unidos, Etiópia, Indonésia e Irã) muito diferentes entre si discutem as questões globais em um cenário geopolítico muito mais turbulento do que nas suas duas edições anteriores, de Kazan, na Rússia, no ano passado, e de Johanesburgo, na África do Sul, em 2023. Fontes do governo admitiram que ainda existem pendências a serem resolvidas, mas que a expectativa é a de que nenhuma delas impeça o acordo de todos em torno do documento. E ele é longo. Já estaria em mais de 80 parágrafos, o que é muita coisa para esses textos diplomáticos. Haverá ainda declarações separadas para Inteligência Artificial (IA) e COP30. Este são dois temas importantes para o Brasil. Tem também a previsão do anúncio de parceria para doenças socialmente determinadas e um memorando de entendimento sobre facilitação de comércio em moedas locais. A guerra comercial de Donald Trump e os conflitos no Oriente Médio e na Ucrânia azedam o ambiente, ao mesmo tempo que tornam necessária uma posição de conjunto, até para provar a relevância do bloco. É por isso que o Palácio do Planalto quer manter o foco nas mensagens que precisam ser emitidas em prol do multilateralismo e das reformas das instituições globais, além do apoio às prioridades do grupo. Para uma fonte do governo, o Brics tem uma capacidade de lidar com as questões de maneira mais equilibrada pela sua própria conformação. "As circunstâncias de momento colocam foco sobre a capacidade do Brics se manifestar”, disse. Aliás, embora já tenha divulgado uma nota conjunta depois dos eventos no Irã, o Brics deve mencionar o conflito em um parágrafo na declaração final. O texto não deve ser muito diferente do que já saiu. Segundo negociadores, não há muito espaço para se ir muito além do que já foi dito, a não ser que haja novos desdobramentos. Líderes ausentes As ausências, de Xi Jinping, da China, e de Vladimir Putin, da Rússia, assim como a do presidente do Irã e talvez de outros líderes do mundo árabe esvaziam um pouco a cúpula, mas aumentam a pressão para que a declaração saia. A falta do russo, contra quem existe um mandado de prisão do Tribunal Penal Internacional (TPI), já era esperada. Mas não está descartada sua participação por vídeo. O que ainda atrapalha a conclusão do texto final é o mesmo tema que impediu que saísse um documento firmado por todos os chanceleres do bloco em abril desse ano no Rio. Egito e Etiópia, dois dos novos integrantes, não são favoráveis a posição consolidada no Brics (de antes de sua expansão) de que Brasil, Índia e África do Sul seriam candidatos a vagas permanentes em um conselho de segurança da ONU reformado. A avaliação do governo brasileiro é a de que é possível chegar-se a um termo comum. O tema deve ser negociado ao longo do final de semana. A programação será intensa. Estão previstas reuniões do Novo Banco de Desenvolvimento (NDB), o banco do Brics, que completa 10 anos, nos dias 3 e 4 de julho. Há também a reunião dos ministros de Finanças e presidentes de bancos centrais, no dia 5, com a participação do ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e do presidente do Banco Central, Gabriel Galípolo. Haddad ainda tem agendas bilaterais com seus homólogos da China, Rússia, Egito e Emirados Árabes Unidos. O presidente Lula, que está na Argentina, onde participa da cúpula de líderes do Mercosul, onde o Brasil assume a presidência temporária do bloco, chega do Rio nesta quinta-feira à noite, tem agenda doméstica na sexta, reuniões bilaterais no sábado (com agenda ainda a ser confirmada) e participa das sessões da cúpula do Brics no domingo e na segunda-feira. Entre países-membros, parceiros e convidados há mais ou menos 28 nações. Desses, em nível de presidente ou primeiro-ministro há a confirmação de dois terços até o momento.
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  • Mercosul fecha acordo com europeus, e Cúpula marcará 1ª visita de Lula à Argentina desde posse de Milei
    Jul 2 2025
    Nesta quarta-feira (2), na reunião prévia à 66ª Cúpula do Mercosul, o bloco sul-americano vai anunciar um tratado comercial com a Associação Europeia de Livre Comércio (EFTA, na sigla em inglês), aumentando a pressão para a ratificação do acordo entre o Mercosul e a União Europeia. Dentro da União Alfandegária do bloco, o Brasil faz uma concessão ao presidente Javier Milei para facilitar um acordo bilateral com Donald Trump. No campo político, esta será a primeira visita do presidente Lula à Argentina desde a posse de Javier Milei, em 2023. Márcio Resende, correspondente da RFI em Buenos Aires Esta edição da Cúpula do Mercosul, como é de praxe, começa na manhã desta quarta-feira com reuniões entre ministros da Economia e entre chanceleres. No final do dia, o presidente Lula chega a Buenos Aires para participar, na quinta-feira (3), da reunião de Cúpula propriamente dita. O encontro acontece num cenário de guerra comercial, com a imposição de tarifas por parte da administração norte-americana de Donald Trump, e com conflitos bélicos. Esse contexto geopolítico tem incidência direta em anúncios e decisões. Será anunciado nas próximas horas um tratado de livre comércio entre o Mercosul e a EFTA, bloco europeu formado por Suíça, Liechtenstein, Islândia e Noruega. Assim como o tratado entre o Mercosul e a União Europeia, este acordo com a EFTA já tinha sido anunciado em 2019, mas também ficou bloqueado devido ao capítulo ambiental sobre o qual os europeus exigiam garantias. Nas últimas rodadas de negociação, ainda havia pendências em capítulos como regras de origem e propriedade intelectual. Mais especificamente, a indústria farmacêutica da Suíça queria garantias adicionais de que o Brasil não quebraria patentes para produzir localmente determinados medicamentos. O Brasil aproveitou a negociação para ampliar o capítulo de compras governamentais que pode dar um impulso ao setor industrial brasileiro. O contexto internacional de aumento do protecionismo nos Estados Unidos levou os europeus a acelerarem a abertura de novos mercados. Isso impulsionou para agora um entendimento com o Mercosul que poderia ficar para o segundo semestre. O acordo a ser anunciado oficialmente nesta quarta-feira (2) abre um mercado de US$ 4 trilhões para os produtos do Mercosul. Este acordo com a EFTA também funciona como elemento de pressão para a ratificação do acordo comercial entre o Mercosul e a União Europeia, cujas negociações foram concluídas em dezembro passado, apesar da oposição de alguns países europeus. Exceções à regra para agradar Milei O Mercosul vai anunciar a ampliação da lista de exceções à Tarifa Externa Comum (TEC). Todos os produtos e componentes importados pelo Mercosul precisam pagar uma tarifa comum. Essa unificação de critérios é o que forma a União Alfandegária. Quando se criam exceções a essa regra, gera-se uma União Alfandegária imperfeita. A soma de várias exceções pode ser fatal para o futuro de uma integração comercial. Até hoje, o Mercosul tinha 100 categorias tarifárias como exceções. Agora, essa lista será ampliada a mais 50 categorias, uma ampliação de 50% nas possibilidades de reduzir tarifas. Isso permite que um membro possa negociar de forma bilateral com países de fora do bloco exceções à regra comum. Esta é uma concessão do Brasil para a Argentina com o objetivo de desmantelar o discurso do presidente Javier Milei de romper com o bloco para negociar acordos comerciais pelo mundo. Milei queria um acordo de livre comércio com os Estados Unidos, mas deve-se contentar com algo bem menor: um acordo de preferências para o qual essa nova lista de flexibilizações é fundamental. Ao mesmo tempo que Milei quer usar essas exceções para negociar com o presidente norte-americano, Donald Trump, uma lista de isenção de alíquotas, o Brasil também pode usar essas 50 novas categorias tarifárias com o mesmo fim comercial. Açúcar e automóveis Para que a soma das exceções não descaracterize o bloco, o Brasil quer aproveitar a tendência de o governo Milei aceitar negociações comerciais para incorporar dois setores que nunca fizeram parte do Mercosul: o setor açucareiro e, sobretudo, o automotivo, responsável pela maior parte do comércio bilateral entre Brasil e Argentina. Em 34 anos de Mercosul, a incorporação de açúcar e de automóveis e autopeças à TEC ficou sempre pendente, devido ao protecionismo dos argentinos que impediu qualquer avanço. O setor de açúcar ficou sempre de fora e o setor automotivo teve um acordo bilateral entre Brasil e Argentina, limitado a cotas no intercâmbio comercial, mas sem uma política comum. Esse será um dos desafios do Brasil neste segundo semestre, quando vai exercer a Presidência semestral do Mercosul. Lula pode visitar Cristina Kirchner na prisão Não haverá, sob nenhuma hipótese, uma reunião bilateral entre os presidentes Lula e ...
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  • Dinamarca assume presidência rotativa da União Europeia com foco em defesa e transição verde
    Jul 1 2025

    A Dinamarca assume nesta terça-feira (1º) a presidência rotativa do Conselho da União Europeia, o que confere ao país a responsabilidade de definir a agenda e as prioridades políticas do bloco durante os próximos seis meses. Com a nova realidade geopolítica mundial, Copenhague pretende focar em temas como segurança e defesa, transição verde e competitividade.

    Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas

    Uma nova meta climática para 2040, que visa reduzir as emissões da União Europeia em 90%, em relação aos níveis de 1990, será divulgada pela Comissão Europeia na quarta-feira (2). A Dinamarca terá um papel central nestas negociações sobre transição verde, apesar da resistência de alguns governos, que negociam apoio à agenda ambiental em troca de flexibilidade ou concessões.

    Bruxelas está considerando uma meta mais baixa para as indústrias domésticas e a compra de créditos de carbono internacionais para compensar a diferença e alcançar os 90%. Organizações de defesa do meio ambiente defendem que a União Europeia chegue à neutralidade climática já em 2040.

    Caberá ao ministro dinamarquês do Clima e Energia, Lars Aagaard, a difícil tarefa de enfrentar um duplo desafio: manter a agenda climática do bloco europeu ambiciosa e evitar que o vácuo deixado pela saída dos EUA do Acordo de Paris comprometa os avanços das últimas décadas.

    Vanguarda no combate ao aquecimento global, a Dinamarca é o único país no mundo onde a maioria de suas cidades já desenvolveu planos para atingir a neutralidade de carbono até 2050. O país escandinavo será responsável pela apresentação das metas de redução de emissões da União Europeia na COP30, na cidade de Belém, em novembro.

    Rearmar a Europa

    Meses após a Rússia invadir a Ucrânia, a Dinamarca convocou um referendo histórico e a maioria da população votou a favor da adesão do país à política de segurança e defesa da União Europeia, da qual permaneceu à margem por 30 anos.

    Recentemente, a Dinamarca anunciou estar abandonando sua posição tradicionalmente moderada em relação ao orçamento do bloco europeu para rearmar a Europa contra a Rússia. “Porque se a Europa não for capaz de se proteger e se defender, então será o fim do jogo”, explicou a primeira-ministra dinamarquesa, Mette Frederiksen.

    As negociações do próximo orçamento que cobre o período 2028-2034 começam depois do verão europeu e a Dinamarca não pretende mais participar do grupo conhecido como os “Frugais”, ao lado da Suécia, Holanda e Áustria, na defesa de políticas fiscais rigorosas. A presidência dinamarquesa da UE vai estar sob uma enorme pressão para, com Bruxelas, encontrar formas de financiar os esforços prometidos pelos aliados da Otan, em aumentar as despesas com defesa em 5% do PIB.

    Mette Frederiksen disse que “é uma grande oportunidade para um pequeno país - como a Dinamarca - preparar o caminho para uma Europa mais forte” neste momento crucial da história do continente.

    Disputa pela Groenlândia

    Nos corredores de Bruxelas circula uma piada que diz que a Dinamarca está assumindo o comando do bloco europeu, só não se deve contar isso para o presidente americano, Donald Trump. Desde que voltou ao poder, Trump ameaça anexar a Groenlândia, um território ultramarino semi-autônomo que faz parte do país europeu, rico em recursos minerais e com localização estratégica no Ártico.

    Recentemente, a Casa Branca mudou de tática e a ideia de anexação se transformou em um plano formal do governo dos EUA para adquirir a ilha.

    O New York Times comentou que Trump, um ex-empresário do setor da construção civil em Nova York, pode ver a “compra da Groenlândia” como um dos maiores negócios imobiliários da história.

    Para a premier dinamarquesa, Mette Frederiksen, cabe à Groenlândia decidir seu próprio futuro. Meses atrás a tensão política deu espaço a uma proposta bem-humorada, onde os dinamarqueses sugeriram comprar a Califórnia por US$ 1 trilhão e rebatizá-la de Nova Dinamarca, além de trocar o nome da Disneylândia para Hans Christian Andersenland, em homenagem ao famoso escritor dinamarquês.

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  • Cúpula da UE termina com críticas da Espanha à inação frente a Israel e extensão de sanções contra a Rússia
    Jun 27 2025
    Um dia após a Cúpula da Otan, líderes europeus se reuniram em Bruxelas para o último Conselho Europeu antes do recesso do verão. A agenda do encontro, que terminou nesta sexta-feira (27), incluía tópicos como Ucrânia, Gaza, sanções contra a Rússia e imigração, além de como chegar a um acordo comercial com os EUA antes do prazo imposto por Trump para impor tarifas retaliatórias. A UE também prometeu apoio aos países com dificuldade orçamentária em atingir a meta de 5% com gastos em defesa. Letícia Fonseca-Sourander, correspondente da RFI em Bruxelas Em Bruxelas, os líderes europeus apelaram para um cessar-fogo imediato e pediram a Israel o fim do bloqueio para a entrada de comida e ajuda humanitária no território palestino. Eles lamentaram a “grave situação humanitária em Gaza, o número inaceitável de vítimas e os níveis de fome”, mas evitaram mencionar as graves violações dos direitos humanos feitas por Israel em Gaza. Esta semana, um relatório da União Europeia revelou que há indícios de que as ações do governo israelense em Gaza violam as obrigações sobre direitos humanos previstas no Acordo de Associação UE-Israel. O bloco europeu é o maior parceiro comercial de Israel e o primeiro-ministro espanhol, Pedro Sánchez, pediu a suspensão imediata deste acordo. "O que não faz sentido é que estejamos implementando 18 pacotes de sanções contra a Rússia por sua agressão à Ucrânia, e a Europa, em um duplo padrão, seja incapaz de sequer suspender um acordo de associação quando o Artigo 2º sobre o respeito pelos direitos humanos está sendo flagrantemente violado", disse o premiê socialista. Israel criticou a declaração de Sánchez acusando o governo espanhol de “lançar uma cruzada anti-Israel” e de “estar do lado errado da história”. Veto da Eslováquia Os dirigentes europeus aprovaram a extensão das atuais sanções contra a Rússia, por mais seis meses, enquanto a Comissão Europeia termina o 18º pacote de sanções contra Moscou, visando os setores energético e financeiro russos. No entanto, a Eslováquia anunciou que pretende vetá-lo por causa de um desacordo com a Comissão Europeia. Bruxelas pretende eliminar progressivamente todos os contratos de gás e petróleo russos até 2027 e o primeiro-ministro eslovaco, Robert Fico, usa o seu veto para pressionar a UE, a fim de garantir o fornecimento de gás. A Eslováquia depende da Rússia para obter energia e Bratislava diz que o fim destas compras traria consequências catastróficas para a economia eslovaca. Outro desdobramento do Conselho Europeu foi a participação do presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky – por videoconferência - que pediu aos líderes da União Europeia para reduzir ao máximo o preço do petróleo russo. Zelensky também abordou a questão da adesão da Ucrânia ao bloco europeu, dizendo que seria justo iniciar o processo de negociação de seu país – atualmente bloqueado pela Hungria - em função do rápido progresso alcançado por Kiev nos critérios exigidos por Bruxelas. Imigração Há dez anos a Europa vivia o auge de uma crise migratória com o recorde de 1,2 milhão de pedidos de asilo, o maior patamar desde a Segunda Guerra Mundial. Mas hoje o continente europeu está se tornando cada vez mais hostil aos imigrantes, e o controle da imigração ocupa o topo da agenda política da União Europeia. O novo chefe do governo alemão, o conservador Friedrich Merz, que participou pela primeira vez de um Conselho Europeu, se reuniu com países interessados em endurecer a política migratória do bloco europeu. A iniciativa, que aconteceu à margem do encontro oficial, foi encabeçada pela Itália, Holanda, Hungria e Dinamarca. Ao assumir o poder, Merz reforçou o controle nas fronteiras alemãs e tem impedido a entrada de milhares de pessoas em situação irregular no país. A Comissão Europeia lembra que medidas deste tipo “devem permanecer estritamente excepcionais”. Esta semana, a Alemanha suspendeu o financiamento de € 2 milhões anuais para ONGs que realizam resgates de barcos carregados de refugiados que tentam entrar na Europa através do mar Mediterrâneo. Uma das principais promessas de campanha de Merz foi justamente combater a imigração irregular e ilegal, considerada fora de controle, por parte do eleitorado alemão. Friedrich Merz acredita que a adoção de medidas duras ajudam a aliviar as preocupações dos eleitores e a frear a ascensão da extrema-direita no país. Antes mesmo de ter sido eleito, o líder da CDU (União Democrata Cristã), tentou aprovar regras de imigração mais duras no Budenstag, com o apoio da extrema-direita Alternativa para a Alemanha (AfD); o que lhe rendeu muitas críticas, inclusive da ex-chanceler alemã, Angela Merkel. Na época, a proposta foi rejeitada. O polêmico projeto anti-imigração de Merz previa restrições à reunificação familiar, recusa de requerentes de asilo sem ...
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    7 m
  • Socialista e muçulmano, Zohran Mamdani pode fazer história se for eleito prefeito de Nova York
    Jun 26 2025
    Zohran Mamdani, um socialista democrata, filho de imigrantes e muçulmano, surpreendeu ao derrotar Andrew Cuomo nas primárias democratas para a prefeitura de Nova York na última terça-feira (24). Com uma campanha fortemente ancorada nas redes sociais e no corpo a corpo com o eleitor, Mamdani foi chamado pela renomada publicação The New Yorker, de milagre nova-iorquino. Luciana Rosa, correspondente da RFI em Nova York Sua precisão ao comunicar um plano de governo com foco no custo de vida e em políticas sociais fez dele um símbolo de renovação dentro do Partido Democrata. Sua candidatura vem sacudindo alianças tradicionais e expondo divisões até mesmo dentro da influente comunidade judaica da cidade. Quem é Zorhan Mamdani Zorhan Mamdani tem 33 anos, é socialista democrata e possui apenas quatro anos de experiência em cargos públicos. Ainda assim, conseguiu uma vitória histórica nas primárias do Partido Democrata para a Prefeitura de Nova York. E mais: derrotou ninguém menos que Andrew Cuomo, ex-governador do estado e um dos nomes mais tradicionais da política americana. Essa vitória é vista como um terremoto político — pois revela o grau da insatisfação dos eleitores democratas com o sistema atual, especialmente depois do retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos. Mamdani não era favorito. Em fevereiro, mal aparecia nas pesquisas. Mas cresceu rapidamente, impulsionado pela indignação com o alto custo de vida em Nova York e pela rejeição a figuras do establishment, como Cuomo, que tentou voltar à cena política mesmo após escândalos que o afastaram do poder há menos de quatro anos. Se vencer em novembro, Mamdani se tornará o primeiro prefeito muçulmano e o primeiro nova-iorquino de origem sul-asiática a comandar a cidade. Um símbolo poderoso de mudança em uma Nova York cada vez mais diversa e politicamente inquieta. Eleições acontecem em novembro Embora Mamdani seja o favorito após vencer as primárias democratas, ele vai enfrentar pelo menos quatro candidatos na eleição geral de novembro — incluindo alguns nomes bem conhecidos. Entre os adversários estão o republicano Curtis Sliwa, o atual prefeito Eric Adams, que tenta a reeleição agora como candidato independente, e até Andrew Cuomo, o mesmo que Mamdani derrotou nas primárias — mas que pode voltar à disputa por meio de uma legenda criada por sua própria campanha meses atrás. Em Nova York, vencer a primária democrata costuma significar vitória quase certa na eleição geral, já que a cidade é majoritariamente democrata. Mas este ano, o cenário é diferente. A eleição deve ser decidida voto a voto, num cenário fragmentado e com um número bem maior de eleitores — incluindo os que não votaram nas primárias por não estarem filiados a nenhum partido. Os votos finais da primária, com contagem por sistema de escolha ranqueada, só devem ser oficialmente certificados em meados de julho. Mas tudo indica que Mamdani será confirmado como o candidato oficial do Partido Democrata. A partir daí, começa a corrida de verdade rumo à prefeitura de Nova York. Campanha centrada no custo de vida em NY Mamdani conquistou os eleitores porque falou de um tema central para quem vive em Nova York: o bolso. Desde o início da campanha, ele colocou o custo de vida e a economia no centro do debate. Seu principal compromisso? Tornar a cidade mais acessível para a classe trabalhadora. No site da campanha, ele já deixa claro: quer “reduzir o custo de vida para os nova-iorquinos da classe trabalhadora”. Entre suas propostas mais populares estão: ônibus gratuitos, congelamento de aluguéis, creches públicas sem custo, reforma no mercado imobiliário para ampliar o acesso à moradia e até supermercados públicos — tudo financiado por impostos sobre o 1% mais rico e grandes corporações. Segundo analistas, Mamdani se destacou por falar de dinheiro do jeito que o povo fala — com exemplos do dia a dia, como o preço do aluguel, da feira e do transporte. Ele não ficou apenas nas teorias econômicas: desceu ao nível do cidadão comum. Esse foco na economia é visto, até mesmo por democratas que não o apoiaram, como uma grande lição. Ele mostrou que, para conquistar a confiança do eleitor, é preciso falar da vida real — e propor soluções concretas e compreensíveis. Divisão da comunidade judaica Mamdani é um crítico aberto da política de Israel e defensor do movimento BDS, que propõe boicote ao governo israelense. Mesmo assim, ele venceu as primárias democratas em Nova York, que é justamente a cidade com a maior população judaica do mundo fora de Israel. Essa vitória revela uma ruptura crescente dentro do Partido Democrata — e também entre os próprios judeus americanos. Enquanto uma parte da comunidade continua apoiando candidatos mais alinhados a Israel, outra, especialmente entre os mais jovens e progressistas, começa a aceitar vozes mais críticas,...
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