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De: RFI Brasil
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Entrevistas diárias com pessoas de todas as áreas. Artistas, cientistas, professores, economistas, analistas ou personalidades políticas que vivem na França ou estão de passagem por aqui, são convidadas para falar sobre seus projetos e realizações. A conversa é filmada e o vídeo pode ser visto no nosso site.France Médias Monde Ciencias Sociales
Episodios
  • Ensino da língua portuguesa na Guiana Francesa é uma “necessidade”, diz professor
    Jul 18 2025
    A comunidade brasileira na Guiana Francesa é uma das mais expressivas. Segundo uma estimativa de 2022 do Ministério das Relações Exteriores, mais de 90 mil brasileiros vivem no território francês de 300 mil habitantes, que faz fronteira com o norte do Brasil. Proporcionalmente, isso significa que quase um em cada três moradores fala português. Essa realidade aumenta a “necessidade” de aprender o português no território, diz Rosuel Pereira, professor e pesquisador da Universidade da Guiana, responsável pelo departamento de inglês e português e vice-reitor de Relações Internacionais da instituição. Em entrevista à RFI em Caiena, Rosuel Pereira abordou a crescente importância do ensino e do domínio da língua portuguesa no território, especialmente devido ao aumento da população brasileira. A maioria desses imigrantes busca oportunidades de trabalho na Guiana Francesa, principalmente na construção civil e no garimpo. Eles vêm majoritariamente de três estados, Amapá, Pará e Maranhão, informa o professor e vice-reitor da Universidade da Guiana. Muitos imigrantes brasileiros são indocumentados. Por isso, é difícil saber com precisão o número exato de brasileiros no território francês. Mas ao andar pelas ruas de Caiena, por exemplo, é possível ouvir o português em cada esquina, revelando uma presença realmente prolífera. Desde a criação da Université de Cayene há cerca de 10 anos, o ensino do português vem se consolidando, com alunos não só brasileiros, mas também guianenses interessados em aprender o idioma. Segundo Rosuel Pereira, “há um interesse de aprender o português não somente dos filhos de brasileiros, mas também de guianenses que falam o português da rua, com colegas e amigos, e depois vêm aperfeiçoar na universidade”. O curso de português-língua estrangeira aplicada da universidade recebe 140 alunos por ano. A língua é também lecionada no ensino fundamental e médio. Além disso, o intercâmbio educacional entre o estado do Amapá e a Guiana tem impulsionado o ensino bilíngue, com classes de português em liceus na fronteira. Português nas instituições francesas A presença crescente de brasileiros na região exige profissionais capacitados para atender essa comunidade e essa realidade cria a “necessidade” de aprender o português no território francês, indica Rosuel Pereira. O professor, responsável pela licenciatura de inglês e português da Universidade da Guiana, diz que já foi procurado por várias instituições locais, como a polícia, hospitais e o sistema judiciário, visando capacitar seus funcionários. A taxa de criminalidade relacionada a atividades ilegais, como o garimpo ou o tráfico de drogas, está em alta, elevando o número de brasileiros também nas prisões da Guiana Francesa. Somente em um dos complexos penitenciários locais, o Remire-Montjoly, que tem mil presos para apenas 600 vagas, 15% dos detentos têm nacionalidade brasileira. “Já formamos profissionais ligados à alfândega, polícia, saúde e serviço social”, explica o professor, lembrando que há um esforço para que “esses profissionais possam estar em contato com brasileiros no dia a dia, seja para tratar de saúde ou questões judiciais”. Agora, universidade está desenvolvendo um diploma universitário voltado ao ensino prático do português. Vantagem profissional Falar português se tornou uma vantagem profissional significativa na Guiana Francesa, especialmente nos setores de comércio, saúde, segurança pública e serviços sociais. “Há uma necessidade de que pessoas formadas falem português e que possam servir também de intérpretes”, destaca o vice-reitor de Relações Internacionais. Com a imigração contínua e o desenvolvimento econômico da região, “é necessário acolher bem essas pessoas, para que elas possam se integrar à sociedade guianense”, salienta. Mas o interesse pelo português vai além da necessidade prática e envolve "tudo o que está ligado à cultura”. Cresce o interesse pelo estudo da variante “brasileira” falada no território. Palavras e expressões francesas foram incorporadas ao cotidiano dos imigrantes. Os brasileiros guianenses falam, por exemplo, “eu vou na vila”, para dizer que vão ao centro da cidade, aportuguesando o “centre-ville” francês. Eles dizem também que vão construir “uma casa tipo maison”, para indicar que querem uma casa grande. Ou ainda, uma festa que “termina à brasileira”, quer dizer, uma festa que termina em briga. Clique na imagem para ouvir a entrevista completa.
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  • Marcos Yoshi trabalha memória e percalços da imigração dekassegui em novo documentário
    Jul 17 2025
    O cineasta e pesquisador Marcos Yoshi, doutor em Cinema pela USP, está desenvolvendo seu próximo longa-metragem documental, intitulado “Toshi Voltou do Japão”. O projeto foi apresentado durante um colóquio em junho em Lyon, no leste da França, que discutiu o cinema feito por nipo-brasileiros, as histórias de imigração e retorno entre o Japão e o Brasil. Patrícia Moribe, em Lyon “Toshi Voltou do Japão” é centrado na complexa trajetória de Toshi, tio paterno do diretor. Toshi imigrou para o Japão em 1990, como dekassegui [brasileiro descendente de japoneses que vai ao Japão para trabalhar, principalmente em fábricas]. Quatro anos depois, ele precisou retornar ao Brasil, relatando ter sido vigiado e perseguido. Segundo Marcos Yoshi, "muito da experiência que ele teve no Japão de isolamento social, de alienação, desencadeou os transtornos mentais que ele acabou tendo". Posteriormente, esses transtornos foram diagnosticados como esquizofrenia. Toshi viveu quase metade de sua vida sob o estigma de sua condição psíquica, com períodos de internação em hospitais psiquiátricos, falecendo em 2022, aos 60 anos. Marcos Yoshi explica que a memória que tem de seu tio é fragmentada: "as poucas memórias que as pessoas têm dele são restritas à família, às irmãs dele e ao meu pai". Essa escassez de lembranças o levou a uma reflexão central para o filme: "isso me levou a pensar que, no fundo, por conta dessa condição dele, ele acabou virando um fantasma. E o filme parte um pouco desse vazio e dessa ideia de que eu vou filmar o fantasma do meu tio". A questão principal do documentário, explica, é "como contar a história de alguém sobre quem se sabe tão pouco?". O projeto não se limita à história individual de Toshi, mas se expande para as experiências de outros homens nipo-brasileiros da mesma geração, que hoje teriam entre 60 e 70 anos. Yoshi aponta que esses homens, pertencentes à primeira geração de dekasseguis, não contavam com redes de apoio ou assistência organizada no Japão, o que os deixou sem auxílio diante das intensas condições de vida e pressão psicológica. "Nesse sentido, o fantasma de Toshi não é apenas individual, mas coletivo – uma representação das dores e apagamentos de uma geração de trabalhadores", afirma o cineasta. Para lidar com a ausência de material e a fragmentação da memória, o filme adota uma abordagem experimental, propondo "atos de fabulação e fantasmagoria". Outros Trabalhos A programação do colóquio em Lyon também incluiu a exibição de “Bem-vindos de Novo” (2021), o primeiro longa-metragem de Marcos Yoshi, um relato íntimo sobre seu núcleo familiar de pais e irmãs. Seus pais também foram para o Japão como dekasseguis em 1999, permanecendo por 13 anos, o que levou à separação da família, com os filhos ficando no Brasil. “Bem-vindos de Novo” aborda o reencontro familiar após o retorno dos pais ao Brasil e a necessidade de "lidar com as feridas, com os sentimentos que ficaram de certa forma abertos”, explica Yoshi. O diretor comenta que o filme "serviu para tentar criar outro tipo de relação entre pais e filhos, criar um espaço onde esses laços pudessem ser reconstruídos e ressignificados, sem que isso necessariamente signifique uma família feliz". A obra buscou ser ainda "um meio para que a gente conseguisse expressar os nossos sentimentos, para que a gente conseguisse conversar sobre assuntos que atravessam toda essa experiência". Cinema da reconstrução Apesar do recente destaque do cinema brasileiro em eventos internacionais, com premiações no Oscar e em Cannes, Marcos Yoshi aponta para desafios significativos na indústria nacional. Ele observa que "os fundos têm sido canalizados para grandes produções". "Está muito difícil financiar projetos que sejam, como no meu caso, projetos menores", afirma. Ele também destaca que linhas de fomento que existiam anteriormente no Fundo Setorial do Audiovisual, voltadas para cineastas em seus primeiros filmes ou para produções autorais/mercado internacional, "deixaram de existir e ainda não foram retomadas". O diretor descreve o cenário atual como um "momento de reconstrução" após uma "tentativa de destruição cultural no Brasil" nos últimos quatro anos. No entanto, ele ressalta a incerteza do mercado pós-pandemia, com o público se acostumando ao streaming e a menor frequência às salas de cinema: "As pessoas se acostumaram a ver filme em streaming, em casa, e não voltam mais às salas". Apesar das dificuldades, Yoshi mantém uma perspectiva otimista. "Existe essa dimensão incerta e difícil, mas, ao mesmo tempo, a possibilidade de sonhar com algo melhor."
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  • "Construção, Desconstrução, Reconstrução": fotografia modernista brasileira é protagonista em Arles
    Jul 15 2025
    Uma ambiciosa exposição nos Encontros de Arles, na França, um dos principais festivais de fotografia do mundo, traz um olhar inédito sobre a fotografia modernista brasileira, com o título de “Construção, Desconstrução, Reconstrução (1939-1964)" e curadoria de Helouise Costa e Marcela Marer. Patrícia Moribe, enviada especial a Arles A mostra é destaque na mídia francesa e internacional. Muitos visitantes admitem que não conheciam a riqueza desse período, um olhar urbano correndo em paralelo com a metrópole paulista, visionária, de muito concreto. Uma aula de história e análise diante de 200 imagens vindas de quatro países e reunidas para esse inventário exposto na Mécanique Génerale, na Fundação Luma. O título da exposição, "Construção, Desconstrução, Reconstrução", foi inspirado na poesia concreta brasileira, contemporânea à produção dos fotógrafos em destaque. Ele se desdobra em três conceitos curatoriais que organizam a mostra em três salas distintas. “O primeiro circuito é construído em torno de uma certa modernidade, traçando um paralelo com a arquitetura que edifica e uma fotografia que busca vislumbrar um futuro promissor”, explica Heloise Costa, docente e conservadora do Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC-USP), que estuda o período há muitos anos. A parte da desconstrução revela os bastidores da ideia de progresso, expondo as pessoas que, embora construíssem a cidade, estavam alheias aos benefícios dessa modernização. Já a reconstrução são as tentativas de experimentação, explorando novas formas e possibilidades visuais. Esforço curatorial de grande porte “É realmente uma exposição de caráter museológico e que envolveu uma pesquisa de 15 meses nossa e de muitos anos da Helouise”, relata Marcela Marer, curadora e pesquisadora, atualmente realizando um doutorado na Universidade de Zurique, na Suíça. “Não é simples você adentrar na obra de cada fotógrafo e depois procurar onde estão essas obras que a gente selecionou previamente, encontrar onde elas estão, quais são as coleções que elas fazem parte e, efetivamente, trazê-las para cá”, acrescenta. Costa e Marer recorreram frequentemente às famílias dos fotógrafos, encontrando negativos que foram escaneados e impressos novamente, além de muitas fotos de época que estavam em posse dessas famílias e de diversas instituições. Pioneirismo do Foto Cine Clube Bandeirante Os conceitos da exposição desvendam as especificidades da experiência modernista do Foto Cine Clube Bandeirante (FCCB), seus paradoxos e seu papel crucial na rede internacional de fotoclubes, ao mesmo tempo em que promovem uma reflexão crítica sobre o imaginário do Brasil moderno e as contradições de seu projeto de sociedade. A exposição utiliza a produção do FCCB como um prisma para explorar a fotografia modernista brasileira. Fundado em 1939 por um grupo de fotógrafos amadores no centro de São Paulo, o clube adotou inicialmente o pictorialismo. No entanto, acompanhando o crescimento e a verticalização da cidade, sua fotografia evoluiu, tornando-se cada vez mais moderna e inspirada nas vanguardas internacionais. A partir de 1945, nomes como Geraldo de Barros, German Lorca e Thomaz Farkas romperam com o pictorialismo, iniciando uma experimentação de caráter moderno que, a partir dos anos 50, seria reconhecida como a Escola Paulista de Fotografia. Essa escola, embora bem estabelecida na América Latina, é ainda pouco conhecida internacionalmente, e a exposição busca trazer esse esclarecimento inédito, redefinindo os contornos da história da fotografia moderna. Destaques e desafios da mulher na fotografia A exposição apresenta obras de trinta e três fotógrafos, incluindo importantes nomes do FCCB como Geraldo de Barros, German Lorca, Thomaz Farkas, José Oiticica Filho e Marcel Giró. Além disso, explora diálogos visuais com artistas precursores da arte neoconcreta brasileira, como Lygia Clark, Lygia Pape e Hélio Oiticica. A participação feminina, embora não seja majoritária, é forte. Marcela Marer explica que, na época, as mulheres enfrentavam restrições significativas para fotografar em espaços públicos, necessitando de autorização do pai ou do marido. Apesar disso, muitas se associaram ao clube, frequentemente como esposas de fotógrafos, e começaram a fotografar, algumas atuando como assistentes de seus maridos. Nomes como Dulce Carneiro, Gertrudes Altschul e Palmira Giró se destacaram com uma produção consistente nesse período. "Construção, Desconstrução, Reconstrução" acontece no contexto da Temporada França Brasil 2025.
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