O que torna um professor inesquecível? José Oliveira Podcast Por  arte de portada

O que torna um professor inesquecível? José Oliveira

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Acerca de esta escucha

Todos guardamos a memória de um ou dois professores que nos marcaram. Não nos lembramos das notas, nem dos nem do que projetaram ou escreveram no quadro, nem dos testes. Lembramo-nos do olhar atento no dia certo. Da pergunta inesperada. Da confiança plantada como quem diz: “Tu consegues.” São esses professores que ficam. Porque nos viram antes de nós sabermos quem éramos. Porque nos empurraram um pouco mais longe do que imaginávamos possível. E, porque, mesmo sem saberem, mudaram a curva da nossa vida para sempre. Esta conversa é, também, um tributo a todos eles. Ensinar é uma arte enigmática. Incompreensível para mim. Importante para todos. Uma arte feita de gestos invisíveis, sementes lançadas ao vento, perguntas que nunca terão resposta imediata. Ensinar é um ofício de fé. Acredita-se que, um dia, aquilo que hoje foi dito, desenhado, percebido — possa fazer sentido para alguém. E que, talvez, esse alguém seja melhor por causa disso. Hoje, no Pergunta Simples, sentamo-nos com um professor que leva essa arte a sério. Sério como quem ri, como quem experimenta, como quem acredita. José Oliveira, professor de Artes na Escola Secundária Francisco Rodrigues Lobo, em Leiria. Mas, acima de tudo, um construtor de mundos. Transformou uma disciplina técnica, aparentemente árida — a Geometria Descritiva — num laboratório de criação. E foi por isso que este ano recebeu o prémio que distingue o melhor professor do país. Mas esta conversa não é sobre um prémio. É sobre aquilo que ninguém vê quando se fecha a porta de uma sala de aula. É sobre como se cria um espaço onde cada aluno tem lugar, tempo, voz, desafio e superação. Onde os erros não são falhas, mas parte do processo. Onde os alunos aprendem com os colegas, e os professores aprendem com os alunos. Onde se ensina com papel, com madeira, com palavras, com copos coloridos, com silêncios e com perguntas. Onde a aprendizagem não parte de um programa, mas de um princípio simples: Ensina-se a partir do ponto onde o outro está. E não onde um qualquer teórico dos programas escolaes imagina que estamos. José Oliveira fala como quem pensa a escola com as mãos. Fala da arte, da matemática e da tecnologia como instrumentos de pensamento. Critica os exames, os programas, os formalismos — mas sem amargura. Fala da educação com uma alegria serena, de quem sabe que ensinar não é cumprir um plano, é acender alguma coisa em alguém. E, pelo meio, diz frases que ficam: Que a geometria descritiva é uma matemática desenhada. Que a escola não deve nivelar por baixo — nem por cima — mas puxar cada aluno para o seu máximo possível. Que nem sempre quem chumba é quem menos sabe — às vezes é quem mais foi abandonado. E que o grande erro da escola moderna é esquecer que cada cérebro tem o seu tempo, a sua forma, a sua origem. Esta conversa podia ser ouvida numa sala de professores, numa oficina de serigrafia ou num comboio entre Setúbal e Leiria. Mas o lugar certo para a escutar é onde estiver alguém que ainda acredita que a escola pode mudar vidas. Que ainda acredita que um professor não é só um transmissor de conteúdos — mas alguém que planta inquietações, liga mundos, abre caminhos. José Oliveira não veio defender um método. Veio lembrar-nos que ensinar é uma forma de cuidar. E que talvez o futuro da educação não conste nos manuais, nem nas grelhas, nem nos ‘rankings’. Talvez esteja ali, no fundo da sala, onde alguém com um copo vermelho na mão — qual semáforo — porque não entendeu o que lhe disseram — espera que lhe perguntem: “Vamos tentar outra vez?” Vamos a isso? Todos nos precisamos de bons professores. Na escola e na vida toda. E precisamos de que haja professores com arte e engenho para nos encantarem no caminho. O que definitivamente não precisamos é de exames escritos deliberadamente para não serem entendidos ou de um sistema educativo que descarta ...
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