Marcos Yoshi trabalha memória e percalços da imigração dekassegui em novo documentário Podcast Por  arte de portada

Marcos Yoshi trabalha memória e percalços da imigração dekassegui em novo documentário

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O cineasta e pesquisador Marcos Yoshi, doutor em Cinema pela USP, está desenvolvendo seu próximo longa-metragem documental, intitulado “Toshi Voltou do Japão”. O projeto foi apresentado durante um colóquio em junho em Lyon, no leste da França, que discutiu o cinema feito por nipo-brasileiros, as histórias de imigração e retorno entre o Japão e o Brasil. Patrícia Moribe, em Lyon “Toshi Voltou do Japão” é centrado na complexa trajetória de Toshi, tio paterno do diretor. Toshi imigrou para o Japão em 1990, como dekassegui [brasileiro descendente de japoneses que vai ao Japão para trabalhar, principalmente em fábricas]. Quatro anos depois, ele precisou retornar ao Brasil, relatando ter sido vigiado e perseguido. Segundo Marcos Yoshi, "muito da experiência que ele teve no Japão de isolamento social, de alienação, desencadeou os transtornos mentais que ele acabou tendo". Posteriormente, esses transtornos foram diagnosticados como esquizofrenia. Toshi viveu quase metade de sua vida sob o estigma de sua condição psíquica, com períodos de internação em hospitais psiquiátricos, falecendo em 2022, aos 60 anos. Marcos Yoshi explica que a memória que tem de seu tio é fragmentada: "as poucas memórias que as pessoas têm dele são restritas à família, às irmãs dele e ao meu pai". Essa escassez de lembranças o levou a uma reflexão central para o filme: "isso me levou a pensar que, no fundo, por conta dessa condição dele, ele acabou virando um fantasma. E o filme parte um pouco desse vazio e dessa ideia de que eu vou filmar o fantasma do meu tio". A questão principal do documentário, explica, é "como contar a história de alguém sobre quem se sabe tão pouco?". O projeto não se limita à história individual de Toshi, mas se expande para as experiências de outros homens nipo-brasileiros da mesma geração, que hoje teriam entre 60 e 70 anos. Yoshi aponta que esses homens, pertencentes à primeira geração de dekasseguis, não contavam com redes de apoio ou assistência organizada no Japão, o que os deixou sem auxílio diante das intensas condições de vida e pressão psicológica. "Nesse sentido, o fantasma de Toshi não é apenas individual, mas coletivo – uma representação das dores e apagamentos de uma geração de trabalhadores", afirma o cineasta. Para lidar com a ausência de material e a fragmentação da memória, o filme adota uma abordagem experimental, propondo "atos de fabulação e fantasmagoria". Outros Trabalhos A programação do colóquio em Lyon também incluiu a exibição de “Bem-vindos de Novo” (2021), o primeiro longa-metragem de Marcos Yoshi, um relato íntimo sobre seu núcleo familiar de pais e irmãs. Seus pais também foram para o Japão como dekasseguis em 1999, permanecendo por 13 anos, o que levou à separação da família, com os filhos ficando no Brasil. “Bem-vindos de Novo” aborda o reencontro familiar após o retorno dos pais ao Brasil e a necessidade de "lidar com as feridas, com os sentimentos que ficaram de certa forma abertos”, explica Yoshi. O diretor comenta que o filme "serviu para tentar criar outro tipo de relação entre pais e filhos, criar um espaço onde esses laços pudessem ser reconstruídos e ressignificados, sem que isso necessariamente signifique uma família feliz". A obra buscou ser ainda "um meio para que a gente conseguisse expressar os nossos sentimentos, para que a gente conseguisse conversar sobre assuntos que atravessam toda essa experiência". Cinema da reconstrução Apesar do recente destaque do cinema brasileiro em eventos internacionais, com premiações no Oscar e em Cannes, Marcos Yoshi aponta para desafios significativos na indústria nacional. Ele observa que "os fundos têm sido canalizados para grandes produções". "Está muito difícil financiar projetos que sejam, como no meu caso, projetos menores", afirma. Ele também destaca que linhas de fomento que existiam anteriormente no Fundo Setorial do Audiovisual, voltadas para cineastas em seus primeiros filmes ou para produções autorais/mercado internacional, "deixaram de existir e ainda não foram retomadas". O diretor descreve o cenário atual como um "momento de reconstrução" após uma "tentativa de destruição cultural no Brasil" nos últimos quatro anos. No entanto, ele ressalta a incerteza do mercado pós-pandemia, com o público se acostumando ao streaming e a menor frequência às salas de cinema: "As pessoas se acostumaram a ver filme em streaming, em casa, e não voltam mais às salas". Apesar das dificuldades, Yoshi mantém uma perspectiva otimista. "Existe essa dimensão incerta e difícil, mas, ao mesmo tempo, a possibilidade de sonhar com algo melhor."
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