Como nasce uma mentira com cara de verdade? Filipe Pardal Podcast Por  arte de portada

Como nasce uma mentira com cara de verdade? Filipe Pardal

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Acerca de esta escucha

No mundo novo, a verdade e a mentira parecem valer o mesmo.As falsidades travestidas de notícia contaminam a nossa confiança e a manipular as nossas formas de ser e estar.Um programa cujo mote principal é: ver, entender e resistir.E não, não são simples boatos ou pantominas.São atos deliberados de comunicação para manipular, para enganar.Há que estar atento. A ameaça é séria. Há coisas que só acontecem quando tudo se apaga. Quando o mundo à nossa volta fica em silêncio. Quando as luzes falham. Os dados caem. Os telefones deixam de dar sinal. E o ecrã — esse ecrã sempre aceso — de repente fica negro. Há um par de semanas. Um apagão elétrico, nacional, deixou milhões de pessoas sem energia. Durante horas. Sem rede, sem ‘internet’, sem televisão, sem rádio. E foi precisamente nesse vazio — nesse momento em que todos esperávamos respostas — que alguém decidiu criar uma mentira. Não uma daquelas que costumam vir de fora. Importadas, traduzidas, adaptadas. Não. Pela primeira vez, nasceu aqui. Uma fake news portuguesa. Made in Portugal. Com uma estrutura clássica: citava a CNN Internacional, punha palavras falsas na boca da presidente da Comissão Europeia, falava de um ataque cibernético russo. E o mais impressionante: funcionava. Porque parecia verdadeira. Porque tinha fonte. Porque tinha aspas. Porque aparecia bem escrita. E porque o momento era propício. O país estava vulnerável. E a mentira encontrou o espaço perfeito para crescer. A desinformação não precisa de muito para se espalhar. Só precisa de parecer plausível. De encaixar na emoção do momento. De tocar naquele nervo exposto. E isso basta. Este episódio começa aqui. Com Filipe Pardal, diretor de operações do Polígrafo e dirigente da rede europeia de verificação de factos, a European Fact-Checking Standards Network, fazemos a autópsia dessa notícia falsa. E de muitas outras. Desmontamos a anatomia de uma mentira. E tentamos responder à pergunta que não quer calar: por que é que acreditamos nisto? A conversa é tudo menos técnica. É direta, desassombrada, útil. O Filipe conhece o fenómeno por dentro. E partilha connosco um conhecimento raro: o de quem passa os dias a ler frases suspeitas, a verificar factos, a desmontar falácias — e a lidar com o ódio que isso provoca. Falamos do termo fake news — que, é uma contradição em si mesmo. Porque uma notícia, para o ser, tem de ser verdadeira. E o que é falso… não é notícia. É desinformação. Ou, se quisermos, um boato — palavra antiga, que talvez descreva melhor o que enfrentamos hoje. Mas o que enfrentamos, afinal? Falamos de plataformas de desinformação profissional, com ligações a interesses geopolíticos. De fábricas de trolls ( uma espécie de robôs da internet, ou excertos de pessoas, que operam como agências — com orçamento, estratégia e objetivos. De vídeos falsos criados por inteligência artificial. De notícias recicladas com novos títulos. De imagens antigas vendidas como atuais. De WhatsApp s de família onde as mensagens falsas correm mais rápido do que em qualquer rede aberta. E falamos de outra coisa: da nossa fragilidade emocional. Porque o problema da desinformação não é só tecnológico. É humano. É psicológico. A mentira cola porque é simples. Porque confirma o que queremos acreditar. Porque nos poupa o esforço de duvidar. Vamos aprender como se combate isso. Com factos, sim. Com verificação. Mas também com literacia digital. Com transparência. Com ética jornalística. E com uma ideia clara: quem afirma um facto tem de o poder provar. Falamos também do preço de dizer a verdade. Do assédio, das ameaças, das pressões. E do cansaço de ser, todos os dias, o chato que diz “isso não é bem assim”. Mas falamos sobretudo da utilidade desse trabalho. Da sua importância para a saúde da democracia. Porque, como diz o Filipe: “Todos têm direito à sua opinião. Mas ninguém tem direito aos seus próprios factos.” Esta frase, simples e poderosa, resume o espírito do episódio.
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